Por: Paulo Pinheiro, Rafael Araújo e Rudney Souza

 

No dia 19 de março de 2020, o Colégio São Luís suspendeu as aulas presenciais. Em 23 de março, todos os setores da escola iniciaram suas atividades em quarentena. Seguimos, desde então, com atividades remotas, em isolamento social, vivenciando uma pandemia cuja proximidade tínhamos notícias apenas pelos livros de história. O enfrentamento desse contexto tem sido um desafio imenso.

Em um curto período, todos nós tivemos de nos reorganizar e reaprender a viver nosso cotidiano. Não devemos e nem podemos ignorar a relevância que tem isso. Porém, vale ressaltar, que nossas ações diante do momento de pandemia não objetivam substituir um modelo presencial por outro, a distância, mas continuar oferecendo o que preconiza o Projeto Pedagógico Comum (PEC, 2016) dos colégios da Companhia de Jesus, no qual está expressa a missão de um colégio jesuíta: “a aprendizagem se dá na perspectiva do desenvolvimento pleno do sujeito (p. 35).

Nossa equipe passou a experimentar novas formas de comunicar e exercitar o conhecimento. Enfrentamos o desafio com a convicção de que, quando agimos de forma cooperativa e generosa, não encontramos impedimentos para realizar a proposta dessa escola. Ampliamos as metodologias para obtermos uma aprendizagem eficiente, respeitando os limites que a situação nos impõe. Abrimos nossas casas e parte de nossa intimidade. Sentimos a falta uns dos outros e encontramos novos sentidos para detalhes que antes passavam despercebidos. Queremos registrar e compartilhar, como uma comunidade educativa, de que forma temos passado por essa experiência. É com essa vontade que criamos o projeto Educação em tempos de Pandemia: o caso do Colégio São Luís durante a crise da COVID-19.

Os números sobre a pandemia mundial são impressionantes, retratam um período que, de alguma forma, será conservado em nossa memória. Não sabemos ainda como será o mundo após essa experiência. Não sabemos, também, como a sociedade irá reagir, se seremos capazes de pensar novas significações para nossas condutas e valores. Mas ninguém passa incólume a uma experiência como essa. Toda a atividade laboral e social tem se adaptado; buscam-se saídas, encontram-se novos obstáculos. A cada dia, renovam-se os desafios e os sentimentos; renovamos nossas ideias e redesenhamos nossos vínculos. Na escola não é diferente.

Um projeto como esse, que busca registrar e compartilhar algumas situações pelas quais passamos nesse período, pode nos ajudar a transformar as vivências em experiências. Ou seja, ao dar materialidade ao que fizemos durante a quarentena, além de compartilharmos caminhos de sucesso no enfrentamento dos problemas, poderemos suscitar oportunidades de reflexão. É muito importante que tenhamos condições de elaborar nossas ações e sentimentos a fim de termos campo fértil para o pensamento. O projeto, portanto, encontra justificativa na necessidade de termos um inventário de nossas vivências, na urgência de compartilhar com os demais as ações que empreendemos, mas, principalmente, na necessidade de transformarmos esse período difícil em uma experiência significativa para nós mesmos.

É preciso registrar que o CSL, desde 2015, tem redesenhado espaços, metodologias, funções e, sobretudo, como registra o PEC (2016, p.38), reestruturado as formas de comunicação e de acesso à informação, de modo a adequar as metodologias à era digital, que modificou o processo de aprendizagem e passou a exigir um referencial de competências em TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). Para além de uma adequação meramente tecnológica ao momento que urge, nossa meta permanente é que os currículos contemplem discussões e o uso fluente dos múltiplos meios tecnológicos, vislumbrando transpor os limites físicos e temporais da sala de aula (PEC, 2016, pp. 38-39). É assim que temos empreendido.

Diferente do que se conhece como EAD (Ensino a Distância), modelo mormente utilizado em alguns cursos de instituições de Ensino Superior, em que um professor tutor interage em fóruns de discussão e disponibiliza aos estudantes textos, atividades e vídeos relacionados aos conteúdos planejados, o CSL conseguiu desenvolver, com os recursos humanos e tecnológicos de que dispõe, uma nova realidade pedagógica, em que, remotamente, as aulas acontecem, com professores e estudantes “ao vivo”, via plataforma Teams, da Microsoft, recurso que possibilita, virtualmente, um ritmo de estudo mais próximo de uma sala de aula presencial.

A rotina, como sempre, começa bem cedinho para todos os estudantes.

Para os alunos e as alunas da Educação Infantil e dos 1.º e 2.º Anos do Ensino Fundamental, publicamos, semanalmente, por meio do aplicativo Escola em Movimento, orientações para as atividades de aprendizagem e videoaulas gravadas pelos professores. O contato entre os estudantes e os docentes, nessa faixa etária, é realizado por meio de videoconferências com o uso da plataforma Teams, da Microsoft, em dias específicos e em pequenos grupos. As propostas nesses encontros “ao vivo” estimulam os estudantes na realização das atividades de aprendizagem e mantêm o vínculo das crianças com seus professores e o Colégio de maneira ativa. Como as crianças pequenas, em casa, dependem dos adultos para a organização de uma rotina e para o acesso aos roteiros, a interação entre os professores, a Orientação Educacional e as famílias tem sido intensa.

Para os estudantes e docentes do 3º Ano (EF1) à 3ª Série (EM), a rotina inicia quando entram nas salas virtuais, cumprimentam-se, ouvem músicas, fazem sessões de relaxamento, leem poemas, resolvem problemas das ciências exatas, debruçam-se nas questões das humanas, ouvem e gravam vídeos e Podcasts, interagem com outras turmas, refletem sobre a atualidade, recebem autores e escritores externos para bate-papos, exercitam-se, realizam assembleias, confraternizam…e, assim, o CSL, que se reinventa há 153 anos, acontece.

São essas experiências que queremos compartilhar nesse projeto. Experiências de um colégio que entende a necessidade de se reinventar, para que a aprendizagem seja sempre mais humana, global e, portanto, mais significativa.

O momento é histórico. Há interesse não apenas em estudá-lo, como também de extrair dele as experiências positivas que floresceram, contrariando as impossibilidades. Entendemos que essa história deve ser devidamente registrada e contada por quem a viveu, ela pertence a seus protagonistas. O CSL compreende, enquanto instituição, a importância de registrar o conteúdo que produziu no atual contexto. Isso ilustra a interação constante que a escola deve ter com o mundo no qual está inserida.

Esse projeto é uma ferramenta de reafirmação do papel da escola na produção de respostas que atendam aos anseios nascidos da realidade contextual. O CSL mostra-se, assim, um organismo vivo que se mantém através da capacidade de adaptação e de resiliência a que o PEC se refere como traço de sua essência. A missão é registrar, com o máximo de completude e em variadas formas, as soluções criativas e as boas práticas que a comunidade desta escola produziu nesse tempo de pandemia e isolamento social.

Entendemos que a riqueza desse projeto está atrelada à pluralidade das perspectivas que ele pretende apresentar. É necessário dar voz a todos os atores que compõem a comunidade escolar que tiveram suas práticas envolvidas pelas novas dinâmicas instituídas em função da realidade atual. Como um mosaico, constituído de partes aparentemente desconectadas, mas que formam um todo único e harmonioso, busca-se, aqui, a maior variedade de enunciadores que ajudem a formar o conjunto de ações que o CSL engendrou neste período e revelou o sucesso da escola em produzir vivências positivas tanto no plano pedagógico como no humano.

A apresentação do projeto encerra com uma exortação para que professores, coordenadores, gestores, orientadores, alunos, funcionários e famílias ocupem o espaço aqui criado com relatos, comentários, descrições, testemunhos, análises, imagens, depoimentos, exposições, partilhas, estudos e dinâmicas de tudo que foi proposto e executado por esta instituição e que transformaram um período essencialmente ruim em um tempo de reinvenção, práticas criativas e produtos significativos.

Por tudo isso, fazemos o convite para que todos participem dessa iniciativa.