Lembranças boas em tempos difíceis
Por Vivian Aparecida Uema (professora de Língua Inglesa – Ensino Fundamental I)
Dou aulas de inglês há 16 anos, sendo 7 deles com aulas particulares on-line. Já usei todos os tipos de ferramentas com esse tipo de aula e lidei com vários perfis de alunos, na maioria adultos, e muitos deles com nível zero de inglês. Porém, tudo dava certo. A grande dúvida que pairava no ar era: será que esse formato serviria para crianças? Pergunta que eu mesma respondia com “Não…acho difícil.”. Recusava essas aulas quando apareciam. Achava que seria inviável. Porém, veio a pandemia e, com ela, a necessidade de trabalhar com crianças tão novas de maneira remota. Confesso que minha experiência anterior me ajudou muito. Sinto-me à vontade no ambiente virtual e já tinha uma ideia de como conduzir as aulas, mas…e o gerenciamento de sala? Como isso se daria?
Fomos tentando, acertando o formato, ouvindo o feedback das famílias e vendo qual ou quais seriam as melhores estratégias para essas aulas. Chegamos ao formato em vídeo e também às aulas síncronas via Teams. Achei tranquilo trabalhar com o 3.º ano por meio da ferramenta. Aos poucos, os alunos foram aprendendo a usar o Teams e também a como se portar nas aulas on-line. Percebi que há alunos muito mais interessados e evoluindo absurdamente no inglês depois que as aulas passaram a ser a distância. Que grata surpresa! Aquela dúvida que eu tinha até pouco tempo atrás foi sanada e percebi o quanto crianças tão novas também podem se beneficiar com esse formato.
Com base nessas experiências, resolvi contar uma história. Sabia que enfrentaria desafios com essa decisão, mas usei a criatividade aliada aos recursos que temos e montei a minha atividade. Alguns acharam-na desafiadora, o que é totalmente compreensível, já que não eram atividades habituais. A partir daí, achei que seria de bom tom me reportar às famílias e explicar com detalhes o porquê de a atividade ter sido proposta. Para a minha alegria, recebi feedbacks incríveis de pais que viram um interesse por parte de seus filhos na leitura de livros originais em inglês. Um dos alunos ficou tão envolvido com a história que passou a tentar ler o livro sozinho todas as noites, ao ponto de dormir com o livro sobre a cabeça! Fiquei tão emocionada que chorei sozinha ao ver a foto. Como uma criança que ainda será alfabetizada em língua materna, faz um esforço para tentar ler em língua estrangeira? Sei que ele “lia” com base no que me ouviu contar, mas esse interesse me tocou profundamente como educadora. Com certeza, levarei essa imagem dele dormindo com o livro para o resto da minha vida. Percebi o quanto meu trabalho fez diferença na vida desta criança. Acho que não somente eu ficarei marcada por essa história, mas ele e a família toda. Quem sabe, a partir disso, ele não se torne um leitor ávido e alguém profundamente interessado por literatura?
Isso só o tempo nos dirá, mas, por ora, já fico feliz em saber que uma pequena leitura causou um impacto tão grande em uma criança. Missão cumprida!