Experiência com planejamento de Ciências da Natureza 2.º ano
Por Renata Laluna e Luciana Lupinacci (professores do 2° ano – Ensino Fundamental I)
“Todo conhecimento é resposta a uma questão. Se não houve questão, não pode haver um conhecimento científico. Nada é dado, tudo é construído.” (BACHELARD, 1996)
Iniciamos o ano de 2020 com grandes expectativas, nova sede, nova Matriz Curricular, entre muitas outras novidades. O planejamento central das aulas de Ciências da Natureza do 2.º ano foi feito no final de 2019. Elaboramos material próprio, sendo a primeira unidade temática nomeada de “Diversidade da vida”, tendo como objetos de conhecimento os seres humanos e outros seres vivos e como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento “Diferenciar comportamentos dos animais daqueles exclusivamente humanos” e “Descrever características de plantas e animais que fazem parte de seu cotidiano e relacioná-las ao meio ambiente em que eles vivem”.
O foco do trabalho em CN no CSL é na investigação e em atividades que mantenham vivo o interesse dos alunos pela
Buscamos mostrar aos alunos a importância do conhecimento científico, no sentido de aproximá-lo do cotidiano, promovendo reflexão e sensibilização sobre os temas trabalhados e a conexão entre as ações dos seres humanos e o mundo que os cerca para incentivar ações positivas e sustentáveis em nossos alunos:
“É preciso criar condições a fim de que o cotidiano seja problematizado em sala de aula – para que novas questões sejam criadas e ferramentas para respondê-las sejam apresentadas e experimentadas. Abordar o ensino-aprendizagem de ciências dessa perspectiva envolve dar ênfase a processos de investigação e não a apenas conteúdos acabados.” (CAPECCHI, 2019, p. 23)
Planejar passa pela seleção dos conteúdos que serão abordados em cada etapa, mas requer também, e principalmente, um preparo cuidadoso de como estes conteúdos serão abordados, para que faça sentido, incentivando as conexões com a vida dos alunos, de forma que tragam para as aulas considerações e conhecimentos de experiências anteriores e levam suas descobertas na escola para outras situações. Embora, os ajustes do planejamento façam parte do processo educacional, fomos surpreendidas com a suspensão das aulas presenciais por conta da pandemia causada pelo COVID-19. Desde o momento em que soubemos que as aulas passariam a ser realizadas de forma remota, reorganizamos o que havia sido planejado para que se adequasse às novas plataformas.
Inicialmente, preparamos “Roteiros de Estudo” que nos desafiaram a buscar e produzir materiais multimídias de qualidade e adequados à faixa etária. Nos “Roteiros de Estudo” propusemos visitas virtuais a museus, acesso a jogos, como recurso comparativo entre o nosso corpo e as partes das plantas (como por exemplo, a postura da árvore: o que nos “enraíza” e nos mantém em pé? O que, no meu corpo, equivale às raízes de uma árvore?), vídeos e podcasts relacionados aos temas estudados. Foi um trabalho intenso de busca e produção de material. A realização de experiências e práticas investigativas foi um grande desafio no ensino remoto, pois tínhamos que pensar em materiais simples que as famílias tivessem em casa. No material produzido, valorizamos o uso de diferentes linguagens, pois…
“A linguagem das Ciências não é só uma linguagem verbal. As Ciências necessitam de figuras, tabelas, gráficos e até mesmo da linguagem matemática para expressar suas construções (…) Temos de prestar atenção nas outras linguagens, uma vez que somente as linguagens verbais – oral e escrita – não são suficientes para comunicar o conhecimento científico. Temos de integrar, de maneira coerente, todas as linguagens, introduzindo os alunos nos diferentes modos de comunicação que cada disciplina utiliza, além da linguagem verbal, para a construção de seu conhecimento.” (CARVALHO, 2019, páginas 7 e 8)
Mural no padlet em que os alunos postaram fotos dos seus seres vivos!
https://padlet.com/2ano1/m7exuk6lrxhf
Na sequência, foram introduzidas na rotina dos alunos as “Rodas de Conversa”, encontros on-line, em tempo real, com pequenos grupos de alunos. Estes encontros tinham intencionalidades pedagógicas específicas, além da possibilidade de integração e socialização. As “Rodas de Conversa” foram uma possibilidade de compartilhar as descobertas, esclarecer as dúvidas, sistematizar conteúdos e verificar o impacto daquilo que estava sendo trabalhado no cotidiano dos alunos. Recebemos fotos de crianças que resolveram montar uma horta ou passaram a explorar mais os espaços verdes que tiveram contato nos locais onde estavam, depois das atividades que propusemos, demonstrando que o nosso objetivo de manter vivo o interesse pela Natureza estava sendo alcançado.
Aluna na pitangueira na casa da avó onde está fazendo a quarentena.
Imagens das rodas de conversa de CN. na primeira, uma discussão sobre o que define um ser vivo. na segunda, a elaboração de uma lista coletiva com as descobertas dos alunos sobre as plantas.
Uma prática que estava prevista para as nossas aulas presenciais era a elaboração da “Caixa de Curiosidade”, em que cada aluno da turma colocaria na caixa algo que gostaria de descobrir sobre o tema trabalhado. Então, periodicamente, a professora abriria a caixa para responder às perguntas ou possibilitaria meios para que os alunos a respondessem, de acordo com o grau de dificuldade. No ensino remoto foi acordado entre a equipe a adaptação desta prática. Assim, em uma “Roda de Conversa”, as professoras coletaram, via chat, as curiosidades que os alunos tinham sobre as plantas, tema que estava sendo abordado naquele momento, e então, a cada semana, as professoras planejadoras escolhiam uma pergunta para responder por meio de vídeo, podcast, texto ou mesmo em experiências presentes nos roteiros. Contamos com a parceria do professor de STEAM, da coordenadora de CN, Denise, e da equipe de CN do EFII e EM.
Algumas curiosidades dos alunos:
As respostas para as curiosidades dos alunos foram abordadas de diferentes formas, entre elas, vídeos da série “Curiosidades sobre as Plantas”. Abaixo um exemplo:
Trabalhar com experimentos foi um desafio e uma surpresa, pois não sabíamos os materiais disponíveis pelas famílias em casa e o envolvimento com a proposta por parte das crianças. Então, fizemos previamente em nossa casa uma experiência sobre as necessidades das plantas, fotografamos o processo e o resultado do experimento para caso os alunos não apresentassem os resultados, no entanto, fomos surpreendidas quando os alunos nos mostraram por vídeo as suas experiências e compartilharam a sua alegria em realizá-los.
Valorizamos a importância de uma avaliação formativa como forma de o professor acompanhar os resultados dos alunos e redirecionar os caminhos. Portanto, fizemos uma atividade de verificação sobre os seres vivos e os pais dos alunos fotografaram para nos mandar. Com base nas respostas, fizemos discussões pelas “Rodas de Conversa” e, para finalizar, gravamos um vídeo de retomada para consulta do aluno em diferentes momentos.
Para nós, foi desafiador planejar e desenvolver aulas neste modelo de ensino remoto, no entanto, diferentes possibilidades se abriram nesse período. O retorno positivo das crianças e o entusiasmo delas com as atividades propostas foram a “mola propulsora” deste trabalho.
Referências Bibiográficas
BACHELARD, G. A formação do espírito científico – Uma contribuição para a psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto, 1996.
CAPECCHI, M. C. Problematização no ensino de Ciências. In. CARVALHO, Anna Maria Pessoa de (org). Ensino de Ciências por investigação: condições para implementação em sala de aula. São Paulo, SP: Cengage Learning, 2019.
CARVALHO, A. M. P. O ensino de Ciências e a proposição de sequências de ensino investigativas. In CARVALHO, Anna Maria Pessoa de (org). Ensino de Ciências por investigação: condições para implementação em sala de aula. São Paulo, SP: Cengage Learning, 2019.