Por Caroline Eufrausino (professora de Língua Inglesa – Educação Infantil)

 

Nas redes socias, vivemos de compartilhamentos: notícias, fotos, vídeos e qualquer outro tipo de informação que achamos que possa ser válida para alguém. Viu algo interessante? Clique aqui e compartilhe. Essa prática pode, muitas vezes, nos deixar sobrecarregados, pois nos dá a sensação de que nunca estamos a par de tudo, há sempre algo a ser lido, visto, aprendido e…compartilhado. A verdade é que, em tempos de pandemia e isolamento, depois que eu entendi que preciso saber filtrar o que me será útil e aceitei o tempo das coisas, essa prática salvou minha vida!

Esse ano, quando estávamos ainda descobrindo a nossa nova sede e começando a girar a gigantesca engrenagem do Projeto São Luís 2020, nos chegou a notícia, de uma semana para outra, que devido à acelerada transmissão do Coronavírus na cidade de São Paulo,  iríamos seguir trabalhando a distância. Eu, professora de Inglês para crianças do Ensino Infantil, não preciso dizer que o meu primeiro sentimento foi de…desespero. E agora? Como manter o ritmo do aprendizado das crianças a distância? Eu, a Miss Carol, que construí toda a minha forma de lecionar baseada no afeto e no chamado olho no olho. E as crianças que acabaram de entrar no Colégio São Luís e ainda não me conheciam? Estávamos começando a nos conectar quando, de repente, veio a pandemia. Muitas perguntas e nenhuma resposta, ninguém poderia saber o que estava para acontecer. Foi um salto no escuro. Mas o importante é que ninguém pulou sozinho. A partir dali, formamos uma forte rede de troca de informações e parcerias que, se não nos ajudaram a prever o futuro, confortaram nosso coração para seguir adiante.

Os desafios foram (e são) muitos. Trabalhar em casa envolve juntar, fisicamente, nossa vida pessoal e profissional. Eu, particularmente, tenho um bebê de 10 meses, o Benjamin, e a partir do momento que passei a trabalhar em casa, ele passou a estar comigo todos os dias. Meu marido seguiu trabalhando, não houve a possibilidade de home office. Isso quer dizer eu me vi, na época com um bebê de 7 meses, tendo que gravar videoaulas e manter o interesse dos meus alunos pelo aprendizado da Língua Inglesa. Foi quando eu tive a primeira ideia e o primeiro compartilhamento: eu gravaria vídeos para as aulas em companhia do meu bebê. Sim, eu precisei fundir a minha vida pessoal com a minha vida profissional. Fiz a gravação do vídeo e compartilhei com o grupo dos professores de Inglês do CSL. Eles adoraram e me incentivaram a seguir, as crianças gostariam. Os alunos amaram, e, em todas as aulas on-line, tem sempre alguém que pergunta: “Miss Carol, onde está o Benjamin?”.

Esse primeiro ato de compartilhar não foi simples, afinal eu compartilhei com professores do Fundamental I, II e Médio. Tive que me entregar à opinião de outros profissionais que respeito. No momento que uma professora de Ensino Médio que eu muito admiro disse “Que ótima estratégia, Carol”, ela não sabe, mas aquilo me encheu de confiança.

Chegamos, então, a outro ponto crucial do ensino a distância: uso da tecnologia. O Departamento de Tecnologia do CSL produziu e compartilhou conosco inúmeros tutorias sobre as mais diversas ferramentas que nos foram oferecidas. A questão é que, no momento da preparação da videoaula, achar como acionar a função x no PowerPoint seria igual a procurar uma agulha no palheiro: eu já vi isso em algum lugar, mas onde?

Mais uma vez, nossa rede de ajuda e compartilhamento de informaçãoes era acionada e sempre havia algum professor que respondia as dúvidas em questão de segundos. Ou, ainda melhor, alguém descobria uma forma mais fácil de utilizar alguma ferramenta, ali na prática mesmo, e antes que perguntas surgissem, e aquela valiosa informação era compartilhada com o grupo. Você faz ideia do tempo salvo na vida de uma professora quando ela recebe uma informação dessas relacionada à tecnologia? São horas!

Eu estou envolvida de maneira bem próxima com o grupo de Professores do Ensino Infantil, com o grupo de Professores de Inglês do CSL e, claro, com o Coordenador de Área, João, Coordenador de Segmento, Sérgio, e Orientadora Educacional, Sabrina, e posso dizer que nos conectamos ao longo dessa quarentena como nunca. Compartilhamos ideias, tutoriais, aulas, vídeos, fotos, sugestões, críticas e, talvez o mais importante, apoio.

Ao longo dessa jornada, que ainda estamos percorrendo, erramos muito também. Ora a tecnologia não foi suficiente, ora a atividade planejada não foi adequada para ser realizada a distância. Enfim, embora tivéssemos a  imensa vontade de fazer que essas aulas acontecessem de forma muito bem-sucedida, por vezes, erramos. Isolados em nossas casas, a sensação de fracasso poderia ser devastadora. O compartilhamento de apoio foi, então, de suma importância. Recebi e enviei apoio ao longo dessas semanas e me considero muito mais próxima dos profissionais que trabalham diretamente comigo.

Em um dos dias mais sombrios, foi compartilhada a notícia que um dos nossos colegas estava internado com Covid-19 e que seu estado de saúde era grave. Os médicos haviam dado 24 horas para que ele demonstrasse reação. A notícia foi um baque. Ele, mesmo ofegante, nos mandou um áudio pedindo oração. Logo começaram a surgir palavras de fé e esperança e, naquela noite, cada um pediu em suas orações para que aquele, que era um dos nossos, se recuperasse. O silêncio no grupo por alguns momentos mostrou a nossa preocupação. Tivemos medo, muito medo. Na manhã seguinte, nos veio a boa notícia de que ele havia dado sinais de recuperação. Ele sairia dessa! E é incrível dizer que naquele grupo, que só compartilhavámos mensagens escritas, eu sentia as pessoas sorrindo.

Passar por uma pandemia e ter de ficar recluso em casa realmente não é uma experiência para a qual estávamos preparados. Ainda que essa situação tenha nos unido, o que poderia nos levar a pensar que foi bom ter acontecido, não foi bom. Não está sendo bom. Tivemos colegas que adoeceram. Familiares de nossos colegas adoeceram. Está sendo realmente uma experência muito dura.

O que posso dizer, porém, é que aquele salto no escuro dado lá no começo teria sido desesperador se eu tivesse dado sozinha. Eu segurei firmemente nas mãos dos meus pares e juntos aprendemos, erramos, e nos consolidamos como uma verdadeira equipe: sem competições, sem melindres, sem estrelas e sem coadjuvantes. Pulamos juntos. E hoje eu sei disso, pois já não está tão escuro. Parece que as coisas estão clareando. Estamos no ar, ainda não pousamos, mas quando olho para as mãos que virtualmente seguro nesse isolamento social vejo meus pares, e quando olho para os seus olhos, vejo que estão olhando pra frente, e seguem sorrindo.